A Rota de Sistelo, classificada e sinalizada como pequena rota, de acordo com os normativos FERP/ERA, percorre antigos caminhos de ligação entre os lugares e as brandas de Sistelo, da Aveleira e da Gavieira. Ao longo do trajecto fica-nos na memória o monumental complexo de socalcos entre os lugares da Igreja e Porta Cova, sempre ladeados pelo Rio Vez, todo o vale glaciar do Alto Vez, a serrania da Peneda e o seu pântano, assim como toda a parte final do caminho que desce para o Santuário da Nossa Senhora da Peneda.
Caminhamos num único sentido, o do Santuário de Nossa Senhora da Peneda, por antigos caminhos de fé e calçadas que guiaram desde sempre os peregrinos e romeiros ao longo da Serra da Peneda. Ainda trilhados por muitos devotos e forasteiros, permite ao caminhante sentir aspectos geográficos, sociais e religiosos de uma das mais típicas convivências do Minho ? Romaria da Peneda, onde o religioso e o profano se conjugam em harmonia. Autênticos testemunhos da importância destes caminhos de ?fé?, para as gentes locais, são os relatos de antigos romeiros, que aqui apresentamos alguns dos seus extractos:
"Nasci no lugar de Porto Cova e tenho memórias muito antigas da Romaria à Senhora da Peneda. Quando era pequena o meu pai ia sempre à Peneda de novenas a pão e água. Ia no dia 30 de Agosto, ficava lá os nove dias e vinha embora no dia 8 de Setembro. Eu tinha os meus 10 ou 11 anos e ia com ele logo no primeiro dia e levava-lhe o pão, umas mantas e um monte de colmo para ele fazer a cama no quartel da freguesia de Sistelo, onde ficava a dormir? No tempo da minha mãe as promessas eram bem diferentes. Minha mãe, Deus lhe perdoe, estava muito doente então pediu saúde à santinha e prometeu ir num caixão do mosteiro da Senhora da Peneda até ao fundo dos escadórios. E lembro-me de ver quatro homens a levarem o caixão pelos escadórios abaixo com a minha mãe viva lá dentro."
Maria Alves Costa nascida em 1936
Padrão, 2011
"A Romaria à Senhora da Peneda é muito importante para mim por causa da santinha. Há muitos anos fui operada à vesícula, mas estive tão mal que me apeguei à Nossa Senhora da Peneda, porque ainda tinha um filho com 14 ou 15 anos, e pedi-lhe que me desse mais uns aninhos de vida para poder confortar o meu filho. E a Nossa Senhora ajudou-me! Depois disso e enquanto pude fui à Peneda a pé de novenas para pagar a minha promessa. Eu acredito nos milagres que a Nossa Senhora da Peneda fez, basta ter fé!"
Preciosa Esteves nascida em 1931
Avelar, 2011
"Naquele tempo ir à Peneda era já uma peregrinação, porque era custoso. Saíamos da Quebrada, passávamos pela Estrica, Portela de Alvito, íamos pela Urzeira, por cima de Santa Marinha, depois subíamos até ao Cavalinho, que é o nome do sítio onde dizem que a Nossa Senhora da Peneda passou a cavalo de uma mula e ainda lá existem as pegadas numa fraga. Eu ouvia os velhos contarem esta história e eu cheguei a ver essas pegadinhas da mula!"
Diamantino Alves nascido em 1927
Sistelo, 2011